segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Antônio Hohlfeldt
Notícia da edição impressa de 31/12/2009

Teatro infantil se recuperou neste ano

Criativo, musical e colorido, Canto de Cravo e Rosa foi um dos destaques de 2009. Foto: Lu Menna Barreto/Divulgação/JC
O teatro infantil não tem vez em promoções do tipo Porto Verão Alegre ou Porto Alegre em Cena. É evidente que isso prejudica a produção local deste tipo de espetáculo, que tem imensa importância, sobretudo como formador do público futuro. Pecam, assim, os promotores de nossos festivais, por excluir aquele tipo de trabalho que, em última análise, é a matéria-prima da futura plateia dos demais espetáculos. Já os festivais de Canela não cometem este pecado. Nem o Festival de Teatro propriamente dito, nem o Festival de Teatro de Bonecos deixam de incluir espetáculos infantis, com o que ampliam consideravelmente suas plateias.
Apesar desse desafio, a temporada de teatro infantil da cidade, no ano que está se encerrando, conseguiu se recuperar parcialmente da queda sofrida no ano anterior. Ronald Radde, do Teatro Novo, de certo modo, marcou todo o ano teatral. Abriu a temporada com o lançamento de Peter Pan e encerrou-a com a remontagem histórica de A Menina das Estrelas, festejando uma longa vida do grupo. Com isso, evidenciou que o Teatro Novo continua atuante, sempre se renovando e, sobretudo, buscando novos caminhos para garantir um público que tem feito a boa estrela do grupo.
Mas o mês de março, que iniciava o ano teatral, trouxe outro bom espetáculo, O cisne, com os bonecos e desenhos de Paulo Balardin para um texto de Mário Pirata, que é sempre um excelente momento de poesia, tanto para crianças quanto para adultos.
Em abril reencontramos o oportuno O que seria do vermelho se não fosse o azul. Mais do que discutir os nossos times de futebol, o diretor Roberto Oliveira, também autor do texto, pretendia colocar em debate a questão dos preconceitos e das diferenças.
Os meses seguintes limitar-se-iam a reprises, mas em julho reencontramos um bom trabalho, o texto do poeta Carpinejar, sob a direção criativa de Bob Bahlis, Filhote de Cruz Credo, maneira bem-humorada de o autor discutir a questão dos conceitos feio/bonito, a partir de sua própria experiência.
No mesmo mês, Ronald Radde voltou a inovar, trazendo para a cena do Teatro Novo O que será que virá?, texto de Paulo Nascimento, que discute questões como a ecologia e a presença da mídia em nossa vida cotidiana.
Em setembro, uma surpresa: Canto de Cravo e Rosa, de Viviane Jungueiro, com a direção de Jessé Oliveira. O texto, mais tarde, viraria livro. Foi um excelente momento para se evidenciar, uma vez mais, que o bom espetáculo dirigido para crianças deve ser criativo e poético, musical e colorido, e com isso envolve também os adultos.
Em outubro, tivemos a oportunidade de assistir a uma releitura de Chapeuzinho Amarelo, texto original de Chico Buarque, aqui redimensionado por Artur José Pinto, com a direção de Paulo Guerra. Espetáculo divertido, mostrou que a gente pode partir de uma boa ideia e ainda inová-la um pouquinho mais.
O ano infantil seria encerrado com A Menina das Estrelas. O texto de Jurandyr Pereira, sob a direção de Ronald Radde, continua atual, justificando-se, pois, plenamente, a sua remontagem.
Este simples levantamento de títulos evidencia que não foi, quantitativamente que o teatro infantil se recuperou, mas qualitativamente. Continuamos enfrentando, é certo, falta de iniciativa de nossos grupos e produtores quanto à escolha de novos textos. Mas o que foi escolhido e apresentado, mesmo quando através de releituras de textos ou espetáculos já realizados, mostrou oportunidade e bom acabamento, aspectos fundamentais para o teatro dirigido às crianças. Agora, é esperar que a próxima temporada se coloque com maior abertura e que nossos produtores inovem, sobretudo, na escolha de textos inéditos. Um dado significativo: enquanto o cinema brasileiro aprendeu a inspirar-se na literatura nacional para buscar argumentos, o teatro infantil ainda não descobriu o veio fantástico que a literatura infantil e juvenil brasileiras significa. Perdem, com isso, a oportunidade de trazer textos e temas atuais, adaptando aqueles trabalhos que, muitas vezes, são inclusive premiados e já testados. Basta lembrar o sucesso que o Teatro Novo alcançou, no ano anterior, ao adaptar textos de Lya Luft.

Os melhores do ano:

• Melhor espetáculo – Canto de Cravo e Rosa, de Viviane Juguero
• Melhor diretor – Ronald Radde, pelo conjunto da obra
• Melhor cenário – Alfredo Radde, por A Menina das Estrelas
• Melhor figurino – Raquel Cappelletto, por Canto de Cravo e Rosa
• Melhor direção musical – Toneco da Costa, por Canto de Cravo e Rosa
• Melhor ator – Denis Gosch, por Chapeuzinho amarelo
• Melhor ator coadjuvante – Álvaro Rosa Costa, por Peter Pan
• Melhor atriz – Viviane Juguero, por Canto de Cravo e Rosa
• Melhor atriz coadjuvante – Lúcia Bendatti, por Peter Pan e Ana Cláudia Bermarechi, por Canto de Cravo e Rosa

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