domingo, 30 de agosto de 2009

Comentário de MARCUS MINUZZI -outubro/2007

O cravo não admite a suposta traição da rosa. Ai, rosa. O cancioneiro que a peça reúne traz uma mística das canções de roda. O rodar permite o visionarismo, para trás e para dentro. O crescimento da nostalgia. A rosa me tocou, especialmente,
por ser não apenas bela, mas triste. A rosa é uma visão mística. Quem de nós nega a beleza da rosa?

Há ouro em pertencer ao jardim. Roda-se em torno da rosa, que é a rainha do primevo, do ardor atemporal. A rosa está sempre chegando. Vejo você menina. Ó menina, entras em cena e és tão bela. A beleza é mortal e ela me desenha a face. O homem é tocado por seus espinhos.

Mata-me a bela. Ó bela, há vento e lágrimas. Olho que as músicas evocam nupcialidade. A menina má e bondosa quer gosto de seda. A aranha tece, o grilo é cantante, o sapo quer ser príncipe.

O papel te pinta. Teu jardim sob a névoa espessa. Gotas de lágrimas, o que é farsesco. Há um punhal, por dentro da alma do artista, com que representar o gozo da própria morte, a morte como vontade não compreendida de ser. A morte embala a todos, o vulto pendular.

Aranhas tecem costuras e põem ovos. Asas não têm, mas voam em fios de seda. Malham a poeira cozendo pega-rapazes. A aranha leva um brinco interior, um tino. Reflete o colar da deusa como serpente do conhecimento e anel que estrangula o par. Mata-se o homem por sua beleza.

Viviane, mãos de tecelã pões sobre nossos olhos. Com esta tua história teces um longo rendilhar ao mito de se ocupar um palco, e com glória. Te desejo bons olhos,pois és uma verdadeira aranha. Com “Canto de cravo e rosa”, compuseste um casaquinho de bebê. Parabéns.

Marcus Minuzzi é poeta e Doutor em Letras.
Esse comentário foi escrito depois da leitura do texto no projeto SAINDO DA GAVETA, em outubro de 2007, antes da estréia da primeira montagem da peça, ocorrida em novembro do mesmo ano.

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